A primeira imagem que vem à cabeça da maioria das pessoas, quando é mencionado o uso de robôs físicos, é de sua utilização em tarefas que envolvem perigo, sujeira, poluição, que são entediantes, repetitivas e degradantes. Há uma infinidade de robôs, trabalhando em ambientes adversos. No fundo do mar, em marte, nas fábricas, armazéns, hospitais, nos lugares mais inóspitos, improváveis e insalubres possíveis.
Um bom exemplo é o Aquanaut, o robô autônomo que atualmente mais se aproxima de um transformer dos filmes. Ele foi concebido para ajudar na complexa, cara e perigosa manutenção subaquática das plataformas de petróleo. Ele se transforma de um pequeno submarino para uma forma humanoide, com dois braços longos para poder fazer seu trabalho.
A indústria automotiva é a líder na aplicação da robótica industrial. Ela sozinha, possui aproximadamente 30% das instalações com robôs industriais no mundo e, por conta disso, tem sido o maior impulsionador da aplicação da robótica nos processos fabris, desde que o primeiro robô industrial, o Unimate, foi introduzido nas fábricas da General Motors em 1959. Somente em 2018, cerca de 130.000 novos robôs foram instalados na indústria automotiva, ao redor do mundo.
A Federação Internacional de Robótica (IFR) divulga um relatório,o World Robotic, todos os anos. O último, publicado em setembro de 2019, aponta que as indústrias de alimentos, produtos plásticos e químicos, metal e maquinaria, elétrica e eletrônica, foram as que mais instalaram robôs industriais nos últimos três anos. Se você trabalha em um desses setores, é provável que sua empresa já use robôs industriais ou, na pior hipótese, os concorrentes dela.
No entanto, há um tremendo inconveniente com os robôs industriais: geralmente eles são perigosos para humanos. Para que não sejam uma ameaça as pessoas e, funcionem de maneira confiável, os robôs industriais normalmente operam de forma segregada, em zonas totalmente livres de humanos, protegidos por células de contenção, que impedem o contato acidental. Mesmo aqueles robôs, que por conta da sua atividade exigem a circulação entre humanos, sua autonomia, capacidade e força acabam sendo restritas para não causar danos.
Os robôs colaborativos, também chamados de cobots, são atualmente a categoria de robôs com o maior potencial de aplicação e crescimento no mundo. Mas eles não são tão novos. Os primeiros cobots surgiram em meados da década de 1990, a partir de projetos de pesquisa universitária e do centro de robótica da General Motors.
Eles são robôs construídos para interagir de forma harmoniosa com seres humanos, em espaços comuns e com total segurança. A utilização de materiais de construção leves, de bordas arredondadas, com limites de velocidade ou força, munidos de sensores, com um software de inteligência artificial comandando-o para garantir um bom comportamento colaborativo são parte das medidas de segurança.
Há inúmeras empresas, grandes como a Google e Amazon investindo desde o desenvolvimento de veículos autônomos para transformar o mundo, a pequenas startups construindo aplicações, para diversas indústrias, com o estado da arte atual da robótica e inteligência artificial.
Manipulação e movimentação de partes e peças em armazéns é uma área que vem sendo dada muita atenção, dada sua importância dentro da cadeia logística. Dentre muitas empresas, a 6 River, pertencente a Shopify, destaca-se atualmente com o Chuck, seu robô colaborativo que se propõe a substituir carrinhos manuais pesados e perigosos e eliminar longas caminhadas para o recebimento e entrega de mercadorias dentro de armazéns. A proposta de ganhos de eficiência do Chuck é espantosa.
No varejo, a execução do inventário de lojas é um desafio. Atualmente duas empresas possuem soluções com robôs que resolvem bem o problema. Há a Simbe, uma startup de São Francisco e a Bossa Nova (BN) de Pittsburgh. No início de 2020, a BN, anunciou a venda de unidades do seu robô de inventário para 1.000 lojas do Walmart, nos EUA. Na verdade, tratava-se da aprovação de um projeto piloto que começou em 2017 com 50 robôs. O robô tem um metro e oitenta de altura, possui somente um corpo fixo, e foi projetado especificamente para complementar ou substituir o trabalho de pessoas na tediosa tarefa de inventariar as prateleiras.
Um dos setores que podemos pensar ser dos mais improváveis para a aplicação de cobots é a segurança pública. A Boston Dynamics está aperfeiçoando, com o apoio da Polícia do Estado de Massachusetts, um de seus robôs, o Spot, que se parece um cachorro, para apoiar ações policiais em campo.
Para o bem ou para o mal, os robôs substituirão muitos humanos em seus empregos e o surto da covid-19 está acelerando esse processo. A pandemia está fazendo o mundo perceber o quão dependente somos das interações humanas para fazer as coisas funcionarem. Não somente o Walmart, nos Estados Unidos, empresas grandes e pequenas, aqui no Brasil inclusive, já estão avaliando como usar robôs para aumentar o distanciamento social e reduzir o número de posições que exigem trabalho presencial. Empresas de trabalho intensivo, como varejo, alimentos, manufatura e logística, são das mais prejudicadas e são as primeiras na fila da inovação.
Empregos menos qualificados estão particularmente vulneráveis à automação e aos robôs. Dessa perspectiva, a transformação digital implica em impactos sociais que tendem a ser uma fonte de preocupação, muito mais cedo do que se imaginava.